Os tios, tias e primos afastados
Vindos da longínqua capital lusa
Por caminhos curvilíneos e apertados
Coisa que apreciar o citadino não usa
Assomaram tristes e esverdeados
À terra a que cedo pediram escusa
Com eles chegaram malas, maletas
Caixas de chapéus, laços e sapatinhos
Coletes, vestidos longos e jaquetas
E alguns pompons vistosos e fofinhos
Crentes que seguindo as etiquetas
Além de chiques ficariam bonitinhos
E na casa desde sempre esplendorosa
Onde espaço se abria para os acolher
Ou não fosse a matriarca caprichosa
E incapaz de sem atenção os receber
Aos pequenos teve a ideia impiedosa
De pro quarto dos fundos os remeter
A boda da Tia Mimi vieram celebrar
Ela desgostosa e com vontade de fugir
Do noivado que lhe impuseram aceitar
Desejando sem hipótese de tal sair
A boca a dizer não, o coração a sangrar
Os olhos a denunciar seu pobre existir
No grande páteo coberto de parreiras
Do estio protegendo o branco casarão
Empregados organizavam com maneiras
O banquete lauto e conforme à tradição
A Tia Mimi não perdoaria suas asneiras
Noutras bodas, nas suas indo de feição
E, entre conversas, risos e gargalhadas
Os convivas ao portão foram chegando
Aos noivos seguindo-se as cunhadas
Irmãs do novel marido que arfando
Segurava as mãos da noiva quase geladas
Aos poucos do fio da vida se libertando
A BODA DA TIA MIMI ©
Helena Cavacas Veríssimo
02 Maio 2024
Arte: “The Unequal Marriage”, Vasily Pukirev
コメント