Quando casamos prometemos ser fiéis, amarmo-nos e respeitarmo-nos, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, todos os dias da nossa vida .
A intenção assim manifestada num dia de união, parece-nos maravilhosa e sinónimo duma vida futura em comum repleta de solidariedade, companheirismo, cuidado e presença.
Ao longo dos anos, vamos fazendo por cumprir o prometido. Umas vezes melhor outras pior, com altos e baixos, os votos cimentam-se naquilo que é a construção de um novo núcleo familiar.
Porém, chegados à idade da reforma damo-nos conta que esses votos não incluíam a promessa de coabitar, de coexistir .... todos os segundos da nossa vida .
Ah, pois não !!!
Mas eis que ali está o casal, em presença, coexistindo 24 horas vezes 7 dias, semana após semana.
Nunca, até então, juntos por tantas horas seguidas.
Sufocante ?
Depende, como é óbvio, do que cada um tem em mente para esse tempo mais ou menos dourado das suas vidas.
As expectativas que cada membro do casal tem em relação à reforma podem divergir bastante.
Provavelmente foi assunto em que não pensaram enquanto profissionalmente ativos.
Nessa altura a reforma afigura-se tão distante que quase nunca é objeto dum planeamento atempado.
Até ao dia em que nos bate á porta ou em que até já nos encontramos dentro da sua porta .
E se o assunto não é abordado e discutido de forma desassombrada, desajustes e discussões que não servem a nenhum dos membros do casal podem ocorrer .
Marido e mulher, afastados das sua rotinas profissionais e de uma gestão do tempo imposta pela própria profissão ou negócio, vêm-se subitamente confrontados com ... todo o tempo do mundo.
E agora, o que fazer com ... todo o tempo do mundo ? Questiona-se ela .
E agora, o que fazer com ... todo o tempo do mundo ? Interroga-se ele .
Agora que têm todo o tempo do mundo, será que as expectativas, prioridades e desejos são coincidentes ?
Será que ela tem expectativas, prioridades e desejos relativamente à vivência desse tempo e ele expectativas, prioridades e desejos completamente distintos ?
Este é um desafio real que pode afetar, e muito, a nova realidade, o novo dia-a-dia do casal .
Na idade da reforma é imperativo não descurar os cuidados com a nossa saúde física, mental e espiritual.
Cuidar da forma como vamos olhar para a nossa saúde nestas três vertentes deve, necessariamente, passar por um planeamento conjunto.
Porque nem sempre é possível fazer aquilo que pensamos que é possível fazer quando o queremos fazer e especialmente quando não se programou fazê-lo.
Seja porque a capacidade física já não é a mesma, seja por constrangimentos financeiros, logísticos ou outros.
Ajustar e planear surgem, então, como as novas palavras de ordem.
Ajustar à nova realidade só pode beneficiar a nova vida em conjunto.
Planear a nova realidade não pressupõe, necessariamente, que o casal vai passar a viver cada segundo das suas vidas ali, um junto ao outro .
É salutar elaborar uma planificação de atividades e de rotinas que não permita que se instale o tédio e a perda de identidade.
É salutar planificar dias para encontros familiares, com amigos e estabelecer calendários para atividades culturais e de lazer.
Planificar viagens, fins-de-semana e mais tempo para usufruir da presença dos netos, quando se aplica.
Não descurando, não cobrando, antes entendendo o facto de que o nosso círculo de amigos e familiares pode não ter e, na maioria não terá ainda ao seu dispor, todo o tempo do mundo.
Não descurando a necessidade de, com todo o tempo do mundo, saber afetar espaço, tempo, momentos para cada membro do casal viver sem a presença do outro.
Saber criar espaço, tempo, momentos para que cada um, individualmente, ou em conjunto, possa continuar a aprender, a melhorar como pessoa ou descobrir um novo propósito que o preencha e permita viver em alinhamento com a sua essência.
Aceitando e respeitando o espaço e liberdade ao outro. Ou partilhando o mesmo espaço, em harmonia.
Respeitando, incentivando e assegurando que, cada um, mantenha viva a sua identidade.
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